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Lima Barreto

“Eu tinha feito o serviço de dia e ia sair. Seriam cinco para as seis horas, quando o Lemos, repórter de polícia, entrou ofegante e deslumbrado. Chegou e falou ao secretário, nervoso de contentamento, com a palavra entre cortada, oprimido de felicidade:
- Um crime! Um grande crime!
- Onde?
- Em Santa Cruz, nos campos de São Marcos... Uma mulher e um homem foram encontrados mortos a facadas e decapitados... Vestiam com luxo...Parecem pessoas de tratamento..Um mistério!
Todos os circunstantes ouviram estuporada a breve narração do repórter. Depois de um curto silêncio, choveram as perguntas. Lemos nada sabia; recebera na polícia, onde pouco mais sabiam. A notícia viera de Santa Cruz pelo telégrafo...Leporace, que raramente saía de sua natureza de celentério, pôs-se nervoso e começou a dar as providências, a explorar o caso:
- Já um boletim... Já!
E logo rapidamente, Adelermo começou a traçar em letras garrafais a notícia que o Lemos trouxera. Eu fui pregá-lo à porta; da sacada, Leporace avaliava o efeito. O primeiro curioso que passou, parou e quedou-se a ler. Vieram outros e em breve uma multidão estacionava em frente do jornal. A notícia espalhou-se rapidamente, com uma rapidez de telégrafo, com essa rapidez peculiar às notícias sensacionais que nas grandes cidades se transmitem de homem a homem quase com a velocidade espantosa da eletricidade. O doutor Loberant entrou, atravessando a custo por entre a multidão. Tinha ouvido qualquer coisa e correu ao jornal. Que houve? Perguntou. Contaram-lhe. A sua fisionomia abriu-se risonha, sorridente e feliz. Ia vender mais mil ou dois mil exemplares. Chegou à janela e viu a multidão crescer sempre".

O trecho acima é do livro “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” do escritor Lima Barreto. Os casos de violência continuam sendo explorados e incentivados pela imprensa. O povo vai pagando a conta...

Comentários

Rachel Souza disse…
Caramba Márcio, achei que fosse seu!! Já ia te encher de elogios...hahahaha
Bjo.

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